Araquari, Santa Catarina: Indígenas denunciam incêndio criminoso na Casa de Reza da Aldeia Tarumã

Antes do incêndio, drones sobrevoam a Aldeia Tarumã. Pelo menos três deles. E a presença de desconhecidosnos acessos à Aldeia. E, à noite, a presença de estranhos rondando as casas… E depois o fogo, destruindo a Casa de Reza, espaço de formação e aprendizagem da cultura Guarani. É isso que conta a jornalista Angela Bastos na matéria que se segue. 

Índios denunciam uso de drones sobre aldeias e incêndio em casa de reza em Araquari

A expectativa é que o caso seja investigado pela polícia

Por:  Ângela Bastos

Lideranças da aldeia Tarumã, em Araquari, norte de Santa Catarina, denunciam um incêndio que afirmam ser criminoso. A Casa de Reza, espaço de formação e aprendizagem da considerado o “coração da aldeia”, foi destruída. Dias antes, informam os índios, três drones sobrevoaram as casas. Os equipamentos foram vistos em horários diferentes, tanto de dia como de noite, e a cerca de dez metros do chão.

A testemunha contou que por volta das 16h de sexta-feira, três homens a fizeram refém e obrigaram a levá-los até a Casa de Reza. Somente ele estava no local, já que famílias moradoras tinham ido participar de uma cerimônia religiosa numa aldeia próxima. Os incendiários estavam sem camisas e usavam camisetas para tapar o rosto. Não foi possível ver se estavam armados, mas o fato se serem três e ele apenas um teria o intimidado.

Indigenas
Foto: Divulgação

O incêndio se propagou rapidamente por causa do material (capim) que cobria o templo. Conforme o relato, os invasores também forçaram a testemunha a acompanhá-los até a saída da reserva, via Estrada do Inferninho, e seguiram a pé em direção ao bairro Rainha. O caso foi denunciado para servidores da FUNAI através da coordenação regional Litoral Sul e ao Conselho Missionário (Cimi). A expectativa é que o caso seja investigado pela polícia.

Os índios também denunciam a presença desconhecidos nos acessos e a presença de estranhos, à noite, próximos das casas. A aldeia fica no quilômetro 64 da BR-101, a cerca de cinco km da aldeia Tarumã Mirim, ambas na mesma indígena. A reserva tem 21,62 quilômetros quadrados de área.

Fonte: https://www.nsctotal.com.br/noticias/indios-denunciam-uso-de-drones-sobre-aldeias-e-incendio-em-casa-de-reza-em-araquari-

Indios AraquariFoto: Divulgação

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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