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CONEXÕES PARA ADIAR O FIM DO MUNDO

CONEXÕES PARA ADIAR O FIM DO MUNDO

Conexões para adiar o fim do mundo

Ao unir a sabedoria camponesa com a conectividade hacker, podemos enfrentar os desafios tecnopolíticos da singularidade, proteger o , promover a soberania alimentar e tecnológica, criando um futuro mais sustentável e conectado com nossas raízes

Por Uirá Porã/Mídia Ninja

Em tempos de urgências socioambientais e desafios tecnopolíticos, é preciso olhar para movimentos sociais que nos mostram caminhos de resistência e transformação. Dois desses movimentos são o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o Movimento Software Livre (MSL), que agora se aproximam nos convidando a repensar nossas referências e métodos de organização social na era das redes.

O MST representa a da luta popular no Brasil, sendo provavelmente o maior movimento pela e justiça social na . Os Sem Terra buscam combater as desigualdades e injustiças no campo. Ao ocupar terras improdutivas, o movimento evidencia a importância da terra como espaço de sustento, autonomia e respeito à vida. A luta pela terra é, também, uma luta pela preservação do meio ambiente e pela construção de uma sociedade mais justa e equitativa.

Por sua vez, o Movimento Software Livre (MSL) surge como um movimento que enfrenta os desafios da era digital, propondo a utilização de softwares de código aberto como ferramentas de liberdade, colaboração e autonomia.

Ao questionar a lógica dos sistemas proprietários e centralizados, os hackers do software livre nos convidam a repensar a forma como nos relacionamos com as tecnologias, promovendo a liberdade, a privacidade e a soberania das pessoas na internet e fora dela.

Ambos os movimentos compartilham a preocupação com a coletividade, com a preservação dos recursos naturais e com a justiça social. Enquanto o MST busca garantir a posse e o uso sustentável da terra, o MSL busca democratizar o acesso e o controle sobre as tecnologias digitais. E juntos lutam por uma sociedade mais inclusiva, onde as pessoas tenham voz, autonomia e dignidade.

Nesse contexto, surge uma oportunidade estratégica e histórica de unir o MST e o MSL em uma frente ampla da felicidade, conectando a luta pela terra à luta tecnopolítica.

Camponeses da Internet ou Hackers da Terra?

As pessoas do campo e os desempenham um papel fundamental de cuidadoras da , garantindo a segurança e a soberania alimentar, enquanto as pessoas hackers e midiativistas assumem o cuidado das tecnologias e da internet, assegurando a segurança e a soberania tecnológica.

A pessoa do campo é essencial para promover um convívio saudável com a terra, preservando o meio ambiente, da mesma forma que a pessoa hacker é essencial para um convívio saudável no ecossistema digital, defendendo a privacidade e a liberdade na internet.

No movimento hacker, assim como no MST, nos acostumamos a lidar com a pecha de “criminosos virtuais” ou simplesmente “invasores digitais”. E geralmente recorremos a analogias para explicar a ética hacker, dizendo que “o chaveiro é especialista em abrir fechaduras, mas isso não faz dele um arrombador”. Mostrando que essa diferença não é técnica, é ética.

Hackers não são pessoas invasoras de sistemas na internet, são na verdade as legítimas “cultivadoras” da internet e, portanto, as maiores especialistas no tema. E assim como campesinos e povos originários são verdadeiras cuidadoras do convívio saudável com a terra, hackers e mídia ativistas são as cuidadoras da digital da internet.

Tanto a pessoa do campo quanto a pessoa hacker contribuem para a produção sustentável, valorizando o conhecimento tradicional. Enquanto a pessoa do campo colabora para a produção de alimentos sustentáveis, a pessoa hacker contribui para a produção de tecnologias e informações, livres e abertas, promovendo a colaboração e a autonomia em rede.

Os assentamentos rurais são comunidades organizadas que promovem a solidariedade e a produção agrícola sustentável, assim como as comunidades do software livre são grupos organizados que promovem a colaboração e a produção de tecnologias e conhecimentos livres e abertos.

Por outro lado, as grandes corporações detêm o poder e o controle sobre as tecnologias digitais, assim como o agronegócio é um sistema concentrado que controla a produção e a distribuição de recursos.

Enquanto os agrotóxicos são substâncias químicas nocivas utilizadas na agricultura convencional que representam riscos à e ao meio ambiente, as informações falsas são disseminadas de forma intencional com o objetivo de enganar e manipular a opinião pública.

Camponeses cuidam da terra e produzem alimentos sustentáveis, hackers cuidam das tecnologias e promovem soluções integradas e seguras. Assim como a e a mídia tática, a permacultura e o sevirismo se unem para criar uma nova forma de lidar com os desafios do nosso tempo, remixando conhecimentos ancestrais e tecnologias em rede.

Essa união permite construir tecnologias otimizadas para cuidar da vida e do meio ambiente, promovendo o e a preservação dos valores ancestrais. Ao enfrentar as grandes corporações e os sistemas concentrados de poder, buscamos criar alternativas que valorizem a colaboração, a autonomia e o bem-estar coletivo.

É nessa conexão entre a terra e as tecnologias que encontramos a oportunidade de construir uma nova narrativa de resistência e transformação. Ao unir a sabedoria camponesa com a conectividade hacker, podemos enfrentar os desafios tecnopolíticos da singularidade, proteger o meio ambiente, promover a soberania alimentar e tecnológica, criando um futuro mais sustentável e conectado com nossas raízes.

A frente ampla da felicidade, formada pela articulação em rede dos movimentos sociais, é a nossa proposta de conexão para adiar o fim do mundo, construindo um futuro baseado em valores de justiça social, respeito à natureza e cuidado coletivo.

É hora de nos conectarmos e agirmos juntes, em prol da vida e da preservação do nosso planeta.

Fonte: Mídia Ninja 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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