Por Zumbi dos Palmares e por todas as Dandaras do mundo
No Brasil, três em cada cinco mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos. Quando se fala em agressões físicas, o número é alarmante: 503 mulheres brasileiras tornam-se vítimas a cada hora
Por Iêda Leal
Esses números revelam um cenário cada vez mais preocupante e desafiador, que traz a necessidade de medidas urgentes para acabar com essa violência que, além de machucar, envergonha, cega, e também mata. Os números são da pesquisa realizada pelo Instituto Avon, em parceria com o Data Popular.
O que tais números reforçam é que a banalização da violência chegou ao ponto em que os agressores, em sua maioria parceiros das vítimas, já não se envergonham, e apenas se escondem atrás da impunidade para seguir agredindo.
As mulheres, por sua vez, temendo novas agressões, ou até pela vergonha de denunciar a violência sofrida, acabam por deixar que aumente ainda mais a estatística da violência.
Mulheres negras: A violência que vem da cor
É urgente, é necessária uma reflexão sobre a violência sofrida pelas mulheres negras. Há que se denunciar a condição dessas mulheres que, além de sofrerem agressões em uma relação de submissão ao parceiro, também são atingidas pelo racismo, pelo machismo, por uma violência que fere a honra, o corpo e a dignidade da mulher negra.
A violência a que são sujeitadas as mulheres, em especial as negras, acontece nos locais mais inusitados e principalmente dentro de casa, ao lado de seus parceiros. Essas agressões vão desde cantadas nas ruas, assédio sexual nos transportes públicos, assédio moral nos espaços de trabalho, relacionamentos abusivos, até a violência física e psicológica.
Pesquisa do Ipea sobre morte de mulheres por agressões (2016) mostra que quase dois terços dos casos analisados foram de mulheres negras, sendo elas as principais vítimas da violência machista em praticamente todas as regiões do país. No geral, o perfil das vítimas é de mulheres jovens, com baixa escolaridade, e negras.
Nós, mulheres empoderadas, devemos usar nossa força para fortalecer essa luta cotidiana nas escolas, nos espaços públicos, nos locais de trabalho, em nossas casas, para que os casos de violência contra as mulheres tenham fim. Esse diálogo é necessário e urgente, porque só a união de esforços e a informação farão com que os números vergonhosos e desanimadores da violência contra a mulher possam ser combatidos e eliminados.
Empenhadas no propósito de lutar para levar informação e desmistificar o estereótipo de que a mulher é o sexo frágil, foi que engrossamos o coro, nas atividades do Dia Nacional de Luta pelo Fim da Violência Contra a Mulher, promovido pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, na VI Conferência da Mulheres, organizada pela APEOSP.
Mulheres: negras, brancas, de qualquer viés político, de qualquer militância, partidária ou não, nós temos um problema, e não podemos viver este silenciamento por conta da vergonha, não temos que nos esconder atrás do medo, a hora de reagir é agora!
Reajamos, todas, ante a violência contra as mulheres negras, o racismo e o feminicídio. Por Dandara e por Zumbi dos Palmares, precisamos cobrar leis eficazes e punições exemplares aos agressores, para que tenhamos uma sociedade que nos abrace, que nos cuide e nos proteja.
Avante, firmes na luta, por mais respeito e dignidade para todas as mulheres brasileiras!
Iêda Leal – Professora da Rede Pública de Ensino, Secretária de combate ao racismo da CNTE, Coordenadora do C. R. Lélia Gonzales, Tesoureira do Sintego e Vice-presidente da CUT – GO