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Entrevista: Luiz Fernando Emediato

Entrevista: Luiz Fernando Emediato – 

Uma trajetória de vida marcada pela coragem. Filho de família de origem rural, de poucos recursos, errática, Luiz Fernando Emediato nasceu na pequena Belo Vale, vizinha de Ouro Preto, Minas Gerais, em 1951. Hoje, é um editor de renome, militante de boas causas, intelectual preocupado com o futuro da Humanidade. Sua carreira seguiu o caminho inverso da maioria dos profissionais das comunicações e artes. Começou como escritor, ainda jovem, em Belo Horizonte, ganhador de vários prêmios com seus livros de contos e romances, dez deles escritos antes dos 30 anos de idade. Neste ponto da vida, ele virou jornalista, como repórter da sucursal mineira do Jornal do Brasil. Logo mudou-se pra São Paulo, onde exerceu cargos de comando em alguns dos principais órgãos de imprensa do País, entre jornais, rádio e TV. Foram 17 anos nesta lida, quando resolveu montar uma editora de livros, a Geração Editorial. Em tudo, sempre com uma postura democrática, ousada, criativa. Dos quatro filhos que teve, apenas uma filha se envolveu com a editora, e hoje é sua principal executiva. Emediato voltou a escrever com o afinco e vários de seus livros estão sendo transpostos ao , com sucesso. Ele inaugura a seção de entrevistas da Xapuri:

x Quais as perspectivas do Brasil no campo ambiental?

LFE – Não vejo com otimismo a preservação da , tendo em vista nossos governos distanciados do tema e o avanço do agronegócio e das hidrelétricas sobre as florestas.

x Como você vê o processo de contínua ocupação da ?

LFE – Com preocupação. Visitei a Amazônia várias vezes nos anos 70 e 80 e de lá para cá o avanço sobre as matas e rios é inexorável, principalmente por causa dos garimpos.

x Proibir o desmatamento funcionaria?

LFE – Não basta proibir e muitas vezes a proibição é estúpida. Florestas devem ser preservadas, mas também, em certos casos, manejadas com tecnologias já existentes. É preciso conviver com elas em harmonia.

x E as cidades brasileiras, como estão?

LFE – As cidades brasileiras vão, como sempre, crescendo sem e com problemas gravíssimos de , contaminação do ar e mobilidade. Além da violência e criminalidade agravados pelo desempregado, pela ausência de educação e oportunidades para os jovens.

x No campo cultural, o entrevero do MINC terá que resultados?

LFE – Mais importante que ter um ministério para a é ter uma cultural, que nunca tivemos.

x E o mercado editorial, como anda?

LFE – Sofrendo as consequências da crise. Os livros de entretenimento continuam vendendo muito, principalmente para jovens, mas a de qualidade a cada dia perde espaço, pela falência do Estado, que não compra para as bibliotecas escolares e públicas. Não existe uma política com programas consistentes para o livro.

x Vale a pena ser editor no Brasil?

LFE – Vale a pena para vender livros de entretenimento: aventuras, fantasias, sexo, romantismo feminino, livros inspirados em videogames. Nenhuma editora sobrevive mais só com livros de qualidade. A própria Companhia das Letras, um exemplo de , abriu dois selos, Paralela e Seguinte, para livros eróticos, populares e para jovens alienados.

x O que diferencia um editor de jornal de um editor de livros?

LFE – O editor de jornal tem que viver a notícia a cada dia, viver o feérico e tenso das redações, matar um leão por dia, conviver com a velocidade dos fatos. Já o de livros tem que estar ligado no que está acontecendo em todo o mundo, nos livros que ainda não foram sequer escritos, tem que identificar tendências. Tem que ter um olho no mercado e outro na cultura, porque o editor que só vive do mercado ganha dinheiro, mas produz livros como se produz feijão, trilhos, sabão. Eu tenho o olho no mercado, porque não podemos ter prejuízos, mas lanço autores novos, livros fantásticos que vendem pouco, mas vendem para pessoas especiais. Não sou um editor sonhador, como nos velhos tempos, mas não abro mão da qualidade, da arte.

x Qual a relação da Internet com o mercado editorial?

LFE – Só ajuda. O mundo, as artes, os livros, os autores estão a um toque de seu teto, na tela do computador e do tablet. Mudou porque te possibilita acessar tudo e todos rapidamente. Diminuiu a importância de feiras de livros como a de Frankfurt, onde vamos agora menos para fechar negócios e mais para fazer relações públicas. Mostrar a cara, conhecer agentes e autores, pessoas.

x A mídia, as distribuidoras e as livrarias valorizam o autor nacional?

LFE – Ninguém valoriza o autor nacional. Só se valoriza o mercado, o que vende.

x Como você classificaria a grande mídia brasileira?

LFE – Presta serviços de lazer e entretenimento com muita competência e na parte editorial publica as notícias de seu exclusivo interesse. E é dominada, como se sabe, por poucas famílias.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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