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“Homo luzonensis”,

Descoberto o ‘Homo luzonensis’, um misterioso hominídeo que viveu há 67.000 anos

A descoberta obriga a mudar mais uma vez os livros, pois a lista de membros do gênero Homo que habitavam a Terra naquele período passa dos cinco conhecidos (neandertais, denisovanos, hobbits de , erectus e sapiens) para seis.
 
Todos esses hominídeos são uma família heterogênea de primatas unidos por laços de parentesco mais recentes do que com outros hominídeos vivos, como os chimpanzés e os bonobos. Cada um representou um experimento evolutivo mais ou menos bem-sucedido. Todos se extinguiram, menos um, o Homo sapiens, que cada vez que encontra um novo parente se pergunta por que eles desapareceram e nós não.

O humano de Luzón é um enigma. É impossível saber como era seu rosto, pois não há fragmentos de crânio, nem que estatura tinha, porque o único osso disponível que poderia esculpi-lo, o fêmur de uma coxa, está quebrado

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Os restos achados — o primeiro, uma falange descoberta em 2007 que data de 67.000 anos atrás, e os demais, encontrados entre 2011 e 2015 com uma antiguidade de pelo menos 50.000 anos — pertenceram a dois adultos e uma criança. Seus dentes, dois pré-molares e três molares, são muito pequenos, parecidos com os de um humano atual e com os do Homo floresiensis, o hominídeo asiático de um metro de estatura e cérebro de chimpanzé que viveu na ilha indonésia de Flores na mesma época.

Em contraste, os ossos de mãos e pés são muito mais primitivos, comparáveis aos dos australopitecos que viveram na África dois milhões de anos antes e cujos membros eram adaptados para que eles vivessem pendurados em árvores.

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“Se você observar cada uma dessas características separadamente, vai encontrá-las em uma ou outra espécie de Homo, mas se analisar o pacote completo, não verá nada similar, por isso esta é uma nova espécie”, explica Florent Détroit, paleoantropólogo do de Natural de Paris e coautor do que descreve a nova espécie, publicado nesta quarta-feira pela revista científica Nature. Foi impossível extrair DNA dos restos, o que aumenta o mistério sobre sua origem.

“Esta descoberta vai provocar um enorme debate”, opina o paleoantropólogo Antonio Rosas, do Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha. “Não é fácil avaliá-la porque há muito poucos fósseis, mas há fundamento para propor que seja uma nova espécie. O que está claro é que isso confirma que a de nosso gênero é incrível e está na antítese desse modelo linear que representa uma espécie de primata após outra até chegar aos sapiens”, assinala. Para Rosas, o mais importante é que esta espécie demonstra um caminho alternativo de evolução ao nosso, caracterizado pelo isolamento.

 
Luzón é cercada pelo mar há dois milhões e meio de anos. O humano achado na caverna de Callao teve de atravessá-lo, ninguém sabe como. É o mesmo que o homem de Flores fez para chegar à sua própria ilha, onde fabricava ferramentas de pedra tão sofisticadas como as dos sapiens. Em Cagayan, um vale perto da caverna filipina, foram encontradas ferramentas de pedra que delatam a presença de hominídeos há pelo menos 700.000 anos, por isso é possível que se tratasse dos luzonensis. Neste ponto, abrem-se pelo menos três diferentes possibilidades sobre sua origem.

A mais plausível é que esta espécie descenda do Homo erectus, o primeiro hominídeo que saiu da África e povoou a Ásia há 1,8 milhão de anos. Todos os humanos atuais vêm de outra onda, muito posterior, de Homo sapiens — que saíram da África há 70.000 anos.

O luzonensis seria um descendente dos erectus que chegaram ao que hoje é a China. Assim como seu congênere de Flores, teria evoluído durante dezenas de milhares de anos de forma isolada, com as pressões evolutivas que isso significa, o que possivelmente o transformou em um humano de dimensões menores que seus ancestrais. Esta possibilidade é apoiada pelo tamanho dos dentes e também do metatarso da mão, cujas dimensões coincidem, explica Détroit, com as dos negritos, humanos atuais que vivem nas Filipinas, Malásia e ilhas Andaman, que não costumam superar um metro e meio de altura. Esse é um dado inquietante se acrescentamos outra evidência recente: os jarawas de Andaman têm 1% de DNA de outra espécie de Homo não identificada, resultado de um cruzamento ocorrido há milhares de anos.

A segunda opção é que o luzonensis provenha de uma onda que saiu da África antes do erectus, possivelmente de australopitecos. Não há fósseis para sustentar essa hipótese, mas pode servir de argumento a morfologia frankensteiniana do luzonensis. Uma terceira opção, defendida por Chris Stringer, pesquisador do Museu de História Natural de Londres, é que os hominídeos de Luzón e Flores descendam de um antepassado comum local que surgiu na ilha de Sulawesi, onde foram encontradas ferramentas de pedra de 110.000 anos.

O polêmico paleoantropólogo americano Erik Trinkaus opina que nenhuma das opções é plausível e afirma que o luzonensis era um indivíduo doente, o mesmo que já foi dito sobre o hobbit de Flores. “É uma raridade que deve ser considerada no contexto do Pleistoceno, no qual as malformações eram muito abundantes”, explica. Pode não ser algo tão desvairado, dado o novo paradigma revelado pela genética, o de que neandertais, sapiens e denisovanos se cruzaram e tiveram filhos férteis. “O debate está muito polarizado, não acredito que o Homo floresiensis seja um Homo sapiens patológico, mas sim que tenha patologias, o que não é surpreendente quando estamos falando de uma população isolada, com altos níveis de endogamia e que sofre, além disso, um processo de nanismo insular que afeta processos de crescimento geral, principalmente quando já se viu que as hibridações entre espécies produzem patologias”, aponta María Martinón, diretora do Centro Nacional de Pesquisa sobre Evolução Humana da Espanha.

 
Os hobbits de Flores desapareceram há 50.000 anos, justamente quando o Homo sapiens chegou a Ásia. A maioria dos restos ósseos de luzonensis tem exatamente essa antiguidade mínima, o que abre um último mistério sobre se os sapiens tiveram algo a ver com o desaparecimento destes dois parentes longínquos que já não estão aqui para explicar sua história.

Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/04/10/ciencia/1554913422_860525.html?fbclid=IwAR3vHOVFjHRmQkvuJujF0OzCbAxLne1bZuGXh6w0BRycNSfFODk9hjPhb8U

Os dentes de ‘Homo luzonensis' encontrados na caverna de Callao (Filipinas).
Os dentes de ‘Homo luzonensis’ encontrados na caverna de Callao (Filipinas). Foto: Callao Cave Archaelogy Project


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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