Janja Chegou!  

Janja Chegou!  

O que há de política e ecologia nesse terninho de Janja é um magnífico escândalo.

Por Geraldo Varjabedian

Por conhecer um pouquinho do assunto, tomei um tranco com o traje de Janja na posse, nem tanto pelo traço, porque moda não é minha área, mas pela seda. Claro que fui pesquisar e entendi a construção feita pela estilista Helô Rocha e a importância do trampo. Muita ecologia e política envolvidas no processo.

Não, Janja não estava apenas podre de chique. Estava vestida politicamente, intencionalmente, desafiadoramente, no que sintonizou perfeitamente com a subida da rampa e o compartilhamento popular da faixa presidencial.

Quem questiona, rastreia, estuda, tenta alertar e educar sobre modos de produção, sabe quanto valem propostas como este trabalho estupendo de tingimento da seda com caju e ruibarbo, a arte dos bordados em palha das bordadeiras de Timbaúba. Que cuidado! Que terninho estudado e conceitualmente precioso!

Trabalho especialíssimo, que escancara um Brasil que negligenciou seus próprios modos de produção, conhecimentos, soberania, para dar espaço às psicopatias industriais. Que homenagem ao Brasil!

Janja deu aula de ativismo, de ecologia, de bioeconomia, de século 21. Fez valer todo nosso empenho para enxotar a caretice do poder.

Geraldo Varjabedian – Escritor. Texto extraído do Instagram da Socialista Morena. Imagem de Capa: CNN. 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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