Mais nove vidas perdidas…

Mais nove vidas perdidas…

por Dora Incontri –Espiritismo Progressista

Mais nove vidas ceifadas

Vidas moças, pisoteadas,

Vidas negras, extirpadas.

Que importa? É periferia…

E quem os proteger deveria

Que faz a selvageria!

Até quando o morticínio

O tétrico extermínio

Que se chama genocídio

De jovens e de crianças

Que indo à escola

Ou se divertindo

Caem sob o domínio

De milicos e polícias

De fardados, de milícias?

Até quando se perpetua

A escravidão descarada

A violência em plena rua

A indiferença deslavada

Ante a morte de brasileiros

Que não são cidadãos de fato

Que não são gente por inteiro

Para os fascistas armados?

Até quando a nossa bandeira

Será manchada de sangue

Vermelha de vergonha

Pisoteada e exangue,

Injustiçada e tristonha?

Vermelha não por partidos

Vermelha porque ensanguentada

Desde quando o poeta clamava

Contra os navios assassinos

Que trazia acorrentada

Uma gente escravizada…

Periferias de hoje

São os navios negreiros

São senzalas da cidade,

Onde morrem brasileiros

Desde a mais tenra idade.

Até quando, meu Deus?

Até quando que os filhos teus

Terão seus corpos trucidados

E os filhos dos filhos arrancados?

Fonte: Jornal GGN

 

Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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