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MARIA LEOPOLDINA: PRINCESA DA LIBERDADE

MARIA LEOPOLDINA: PRINCESA DA LIBERDADE

Maria Leopoldina: Princesa da Liberdade, Imperatriz da Independência

O ano era 1822, o dia 2, o mês era setembro. A Imperatriz, munida de poderes outorgados pelo Príncipe Regente D. , presidindo o Conselho de Ministros, decretou nossa Independência.

Por Iêda Vilas-Bôas

E por onde andava o Imperador? Por que a história da Independência do só é estudada, difundida, conhecida e reconhecida a partir de 07 de setembro de 1822?

Para entender essa história, registramos aqui a saga de coragem, sofrimento e humilhação sofrida por Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena, nascida em Viena, Áustria, em 22 de janeiro de 1797.

No Brasil, a arquiduquesa da Áustria, rainha de Portugal por oito dias, em 1826, e Imperatriz Consorte do Império do Brasil de 1822 até sua morte, chamou-se Leopoldina. A adoção do nome “Maria” deu-se, segundo consta, por sua devoção à Virgem e pelo fato de todas as infantas portuguesas serem “Marias”. Já seu esposo, Pedro, fez-se mito por seu famoso brado “Independência ou Morte!”, mas também ficou conhecido por sua notória atração pelos prazeres da carne.

Leopoldina se casou sabendo que lhe esperava um esposo forte, bonito, viril e libertino com a criadagem e as cortesãs. Também sabia de seu temperamento colérico, da sua falta de polidez no trato com as pessoas… mas confiou na grandeza do nome que carregava e na austríaca que recebera: haveria de vencer e cumprir sua missão.

De fato, essa corajosa cumpriu importante missão na nossa História.  Em 2 de setembro de 1822, Maria Leopoldina, então princesa regente do Brasil, por conta de uma de Dom Pedro, assinou o decreto da Independência e declarou o Brasil separado de Portugal.

Ato imediato e subsequente, enviou carta a D. Pedro, exigindo que ele proclamasse a Independência do Brasil. Ao receber a carta, ante o tom incisivo da Imperatriz – “O Brasil vos quer como monarca. Com vosso apoio ou sem vosso apoio, ele fará a sua separação. O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece” –, D. Pedro proclamou o Brasil livre de Portugal, às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo, no dia 7 de setembro.   Enquanto aguardava o retorno do marido, a Imperatriz tomou providências práticas, como idealizar a bandeira do país. Foi coroada imperatriz em 1 de dezembro de 1822, na mesma cerimônia de coroação e sagração de D. Pedro I.

Culta, valorizava a cultura, as letras e as artes. Tinha interesse por botânica e mineralogia.  Após seu casamento por procuração em 1817, veio para o Brasil acompanhada por cientistas, botânicos e pintores.  Ao chegar, contratou Jean Baptiste Debret para desenhar quadros e os símbolos da Corte como uniformes de gala, em verde e ouro, as condecorações do novo Estado, a Coroa de Ferro, as insígnias da Ordem do Cruzeiro do Sul. Exímia caçadora, acompanhou o marido em caçadas na planície de Jacarepaguá durante a lua-de-mel.

Em 25 de abril de 1821, a corte foi convocada para retornar a Portugal. De uma só leva foram 11 navios que levaram o rei, a Corte, a Casa Real e o tesouro real. Só o Príncipe e sua família permaneceram no Brasil. Ele como regente do país, com amplos poderes contrabalançados por um Conselho de Regência.

A necessidade de Independência nascia aí. Portugueses e brasileiros tornaram-se opositores, e o rompimento das relações amistosas parecia evidente. Leopoldina toma para si a causa do brasileiro e, contrariando ordens de Portugal, deseja e apoia a ideia de independência do nosso país.

Os brasileiros já estavam esperando que D. Pedro retornasse a Portugal, o que rebaixaria o país ao status de simples colônia, em vez de um reino unido ao de Portugal e Algarves.

No Rio, José Bonifácio de Andrada e encabeça milhares de assinaturas exigindo a permanência dos Regentes. A província de São Paulo, através de alguns homens cultos e corajosos, liderava o movimento separatista, que pressionou o Príncipe Regente a proclamar o dia do FICO. Com essa atitude o Príncipe Real conquistou a confiança do povo.

Neste cenário, D. Pedro vai a São Paulo resolver conflitos e entrega o poder a D. Leopoldina, no dia 13 de agosto de 1822, nomeando-a chefe do Conselho de Estado e Princesa Regente Interina do Brasil.  Portugal fecha o cerco. Leopoldina toma a decisão de romper relações com Portugal, quebrar o pacto de Reino Unido e proclamar o Brasil um país livre.

A Imperatriz amava seu esposo e suportou terrível sofrimento ao seu lado. Com ela, D. Pedro era grosseiro, agressivo e desrespeitador. Abusava mental e fisicamente do caráter fino e educado da moça. Em nove anos de casamento, ela ficou grávida nove vezes, com sete filhos vivos. O mais novo, Pedro de Alcântara (1825–1891), sucedeu o pai como D. Pedro II.

Em um episódio de agressão, Pedro lhe dera um pontapé na barriga, na presença do embaixador austríaco, Filipe Leopoldo Wenzel, Barão de Mareschal. O peso da dor, do maltrato e das ofensas fez com que a gravidez, na 12ª semana, sucumbisse e o estado da Imperatriz se agravasse.

A agressão também foi presenciada pela amante de D. Pedro I, Domitila de Castro, a Marquesa de Santos. Em sua crueldade, D. Pedro colocou a amante para ser primeira dama de companhia da Imperatriz. Coabitavam o mesmo espaço: esposa e amante. Mais uma intensa humilhação sofrida por Leopoldina.

Sorrateiramente, a Marquesa tentava tomar o marido e o posto da Imperatriz. Conta-se que o costume de pedir propinas começa com Domitila, que não deixava escapar, sequer, a porcentagem de um cacho de bananas do Império.

Com o agravamento da doença de Leopoldina, a frágil popularidade de Domitila piorou muito, e sua casa em São Cristóvão foi apedrejada. O povo brasileiro amava a Imperatriz e se condoía por sua enfermidade.

Pressionado, D. Pedro retirou de Domitila a função de primeira dama de companhia. Ministros do paço imperial exigiam que ela deixasse a corte. A situação se espalhou como pólvora pela Europa e D. Pedro teve sua reputação abalada, o que lhe causou transtornos políticos e sociais. Inclusive, posteriormente, com dificuldade para conseguir nova esposa.

Nos seus últimos anos de vida, a Imperatriz entra num quadro de extrema e profunda depressão. Busca conforto na religião, na leitura e na educação dos filhos. Descuida-se da aparência, levada pelas traições conjugais, mas mesmo assim tenta, a todo custo, manter a família e a paz em seu lar, fazendo todas as vontades de D. Pedro I.

Maria Leopoldina morre no Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, bairro de São Cristóvão, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, em 11 de dezembro de 1826, aos 30 anos incompletos.  O imperador, em viagem, recebe a notícia de sua morte por convulsões, febre alta e delírios. O filho que carregava no ventre morreu com ela.

Leopoldina, a Imperatriz que atuou mais nos bastidores do que no centro do palco político, foi além do papel de coadjuvante: instigou, apoiou e defendeu a Independência do Brasil. Sua figura permanece quase desconhecida e pouco se tem de registro de seu importante papel na história.

Resgatar a memória da soberana contribui para a valorização do e para o empoderamento de .

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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