“Metida não. Empoderada!” Unesc debate feminismo indígena

“Metida não. Empoderada!” Unesc debate feminismo

“Metida não. Empoderada!”

Ana Roberta Uglõ Patté

Feminismo indígena é tema de debate na Unesc

Por Redação Unesc

“Metida não. Empoderada!”. É assim que Ana Roberta Uglõ Patté, índia Xokleng, respondia e responde aos seus irmãos quando a chamam, carinhosamente, de metida. Ana é acadêmica de Direito da UFSC ( Federal de Santa Catarina) e militante do movimento feminista.

Ela participou de um debate dentro da programação da Semana de Feminismos , promovido pelo CA (Centro Acadêmico) do curso de História da Unesc. O evento contou com a participação de professores e acadêmicos de diversos cursos de Licenciatura da Universidade, em agosto de 2018.

O objetivo do encontro foi de abordar e desfazer os paradigmas do movimento feminista dentro da cultura dopovo indígena. “Desde pequena eu sempre fui metida, no bom sentido. Sempre envolvida com as causas da aldeia, por isso meus irmãos brincam comigo assim”, comenta.

Incentivada pela , Ana saiu da aldeia para estudar em Florianópolis e conheceu o movimento feminista. “Quando você sai da aldeia, você começa a ver as diferenças. Nossa realidade de é diferente. Hoje eu sei o que é o feminismo”, acrescenta.

De acordo com ela, o seu interesse não é o de retirar os costumes do indígena, mas sim de criar uma nova feminista indígena. “Eu penso de que forma levar o feminismo sem ferir os usos da minha aldeia, pois lá se tem costumes que não serão modificados, pois fazem parte da cultura daquele lugar”, comenta.

 

Segundo Ana, alguns hábitos que as mulheres da aldeia praticam são parte histórica daquele povo. “As mulheres da aldeia têm uma política diferente. O machismo que hoje existe lá dentro, veio de fora, veio do homem branco da cidade. É por esse machismo que lutamos contra, pois ele fere com os costumes que os homens praticam dentro da aldeia”.

A professora do curso de Direito da Unesc Mônica Ovinski de Camargo Cortina, produziu um recente trabalho que trata sobre os direitos das . De acordo com ela, atualmente o avanço nessa área tem aumentado. “Não compete a nós tomar a fala das mulheres indígenas, mas temos que dar espaço e fala para elas. Porém, isso de nada vai adiantar se não tivermos pessoas para escutá-las”, enfatiza.

Segundo Ana, a luta das mulheres dentro e fora da aldeia é constante. “Nós temos que além de aprender com a Universidade, ensinar e ter espaço de fala”. De acordo com ela, está ocorrendo um aumento da participação indígena na UFSC, o que seria um reflexo da luta de muitas pessoas por espaço ao povo indígena.

Ana Roberta Uglõ Patté (SC) mãe, militante e atualmente trabalha como assistente parlamentar em São Paulo, tratando exclusivamente das questões indígenas. Formada em Licenciatura Indígena com ênfase em Direito Indígena pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Grupo Indígena Laklãnõ/Xokleng.

Fonte: Unesc AICOM – Assessoria de Imprensa, e Marketing

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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