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Nonô Noleto

Por uma feliz coincidência histórica, Nonô, nascida Laurenice Noleto, jornalista goiana formada pela Federal de Goiás (UFG), 40 e mais anos de experiência profissional, Alves pelo casamento com Wilmar, também jornalista, veio ao em 10 de dezembro de 1948, mesmo dia, mês e ano da Declaração Universal dos .

Por

Estrela-guia, Nonô Noleto passa por este nosso como uma amapari. Do seu florido quintal em Goiânia, Nonô vai irradiando luz, apontando caminhos, arrastando gentes em defesa das justas causas e dos humanos direitos. Libertária, a moça nascida em Araguacema faz da jornada um feliz esperançar, ainda que, por toda a vida, em brava e guerreira .

Guardiã do legado de Wilmar Alves, jovem militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), preso e torturado pela ditadura militar, com quem, mais tarde, se somou a outros e a outras lideranças para fundar o Partido dos Trabalhadores (PT), Nonô integrou a Comissão de Memória, Verdade e Justiça, como diretora do Sindicato dos Jornalistas, signatário do Comitê Goiano Dom Tomás Balduíno de Justiça e Paz.

Inquieta, a mãe do Olavo, do Fred e do Guilherme vive sempre em movimento, agitando Goiás. Licoreira, produz em casa, em parceria com a amada irmã Letice, os refinadíssimos Licores Noleto, com sabores extraídos dos frutos do Cerrado, incluindo o clássico licor de pequi, imperdível!

Feminista, Nonô faz de seu engajamento com a instrumento de luta. Todo santo ano, durante o Carnaval, ela desfila, garbosa e radiante, no bloco Não é Não, levando pelas ruas de Goiânia uma espécie de educação sexual contra o feminicídio, contra a violência contra a e contra toda forma de exploração, racismo e preconceito.

Nas horas vagas, Nonô bota pra fora os guardados do coração em forma de memórias e crônicas. São cinco livros, até agora: Alice, Araguacema e Cassununga, meus três amores (1996); O Moço da Camisa Azul (1998); no Quintal – Memórias de Sonhos e Lutas (2015); Fraternidade em memórias – organização e texto final (2022); e Roda de Saia (2022).

zezeZezé Weiss – Jornalista, com base em conversas com Nonô e na biografia da autora, publicada nas orelhas do livro Roda de Saia e em outros escritos mais.

 

 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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