SALOBO: 10 BRUMADINHOS

Salobo:10 Brumadinhos

O Ibama autorizou na primeira semana de junho a Salobo Metais, subsidiária da Vale, a altear novamente a barragem do Mirim, no sul do Pará. Com essa autorização, a empresa irá aumenta

Por Lúcio Flávio Pinto

Para isso, terá que incrementar a extração de minério bruto, de 24 milhões para 36 milhões de toneladas por ano. A expansão acrescentará US$ 1,1 bilhão de dólares aos US$ 4,2 bilhões que a empresa já aplicou no empreendimento, num total de US$ 5,3 bilhões (mais de 20 bilhões de reais).

A barragem do Mirim foi construída entre 2009 e 2010, com o objetivo de conter os rejeitos provenientes da usina de concentração de minério de cobre e servir como fonte de captação de água bruta para a operação da fábrica.

Esse reservatório ocupa uma grande área, de quase 350 hectares (ou 3,5 quilômetros quadrados), com capacidade para armazenar mais de 70 milhões de metros cúbicos de rejeitos – mais de 10 vezes o volume da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais. A autorização original, de 2006, previa 5,7 milhões de metros cúbicos.

A barragem tem mais de 70 metros de altura. Ela fica no interior da Floresta Nacional do Tapirapé Aquiri e de outras unidades de conservação, com áreas contínuas, com 1,3 milhão de hectares, localizadas na província mineral de Carajás. Os índios Xikrin do Cateté, que têm a sua reserva a pouco mais de 20 quilômetros de distância, foram à justiça para tentar suspender as atividades de mineração. Por duas vezes a justiça federal rejeitou a pretensão.

Lúcio Flávio Pinto, Jornalista desde 1966, Lúcio Flávio escreveu mais de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, Guerra Amazônica, Jornalismo na linha de tiro e Contra o Poder. Também é o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras em 2014.

Fonte: Amazônia Real

 
Brumadinho 2019
Brumadinho – Foto: Reprodução/Internet
 
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O CRIME DA VALE EM BRUMADINHO

No dia 25 de janeiro de 2019, a barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), se rompeu, soterrando com 13 milhões de metros cúbicos de lama tóxica tudo o que encontrava pelo caminho: pessoas, animais, florestas, casas…

Casos como este, que podem se tornar mais frequentes com a flexibilização do licenciamento ambiental, não podem ser considerados acidentes, mas crimes socioambientais oriundos da ganância e da negligência.
Em apenas três anos, a Vale foi responsável pelas duas maiores tragédias socioambientais do Brasil: Mariana e Brumadinho. Milhares de pessoas perderam seus familiares, seus lares e seu modo de vida. Basta de crimes como esses!

Impactos
Água

Água

Nos mais de 300 km do Rio Paraopeba analisados pela SOS Mata Atlântica (desde a região de Córrego do Feijão até o reservatório de Retiro Baixo, em Felixlândia), a água estava imprópria, sem condições de uso. A organização também verificou que os rejeitos contaminaram até o Rio São Francisco, um dos mais importantes do Brasil

Floresta

Floresta: Segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), houve uma perda de 138 hectares de florestas nativas, o equivalente a 153 campos de futebolu

Cidades

Cidades: Ao menos 17 municípios no entorno do Rio Paraopeba foram afetados, atingindo cerca de 600 mil pessoas

Vítimas

Vítimas: Mais de 250 vítimas fatais, entre pessoas identificadas e desaparecidas, e um sem-número de animais

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UMA REFLEXÃO SOBRE BRUMADINHO 

Há cerca de dez anos, a cidade de Mariana e o Distrito de Bento Rodrigues, ambos em Minas Gerais (MG), agonizavam na tragédia que seria uma das maiores que o Brasil teria vivenciado: o rompimento de uma barragem de rejeitos da Samarco

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Área afetada pelo rompimento de barragem no distrito de Bento Rodrigues, zona rural de Mariana (MG), em 2015 – Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Muitas vidas ceifadas, muitas pessoas sem ter onde morar e o meio ambiente, mais uma vez, sofrendo com a inércia do poder público e os desmandos de gananciosos pelo lucro a qualquer preço.
E a tragédia logo se repetiu, com as vidas perdidas, os danos patrimoniais, ambientais e sociais com a tragédia de Brumadinho (MG). Tudo isso deixa mais distante do Brasil o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS, cujas metas buscam concretizar os direitos humanos de todos e equilibram as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental.

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Foto: Mídia Ninja / Lucas Sharif

Desde que o ser humano surgiu no planeta, entre 350 a 500 mil anos atrás, a relação com o ambiente tem se transformado a partir do desenvolvimento das civilizações. A dependência da nossa espécie pelos recursos naturais estava inicialmente clara, pois os primeiros agrupamentos humanos migravam em busca de disponibilidade de alimentos, água e abrigo.
O desenvolvimento da agricultura e de outras tecnologias permitiu que fixássemos residência, já que as nossas necessidades começaram a ser atendidas com a produção de alimentos e a oferta de bens de consumo e serviços.
Conforme caminhamos para condições mais confortáveis de vida, a nossa dependência pelos recursos naturais fica menos evidente, demandando a reflexão a respeito do quanto somos vulneráveis. Atraídos pelas tentações do consumo e de padrões de vida que exigem a substituição e o descarte de materiais, já não enxergamos o quanto estamos impactando o ambiente.
Poucas pessoas compreendem, por exemplo, que os meios de transporte e os eletrodomésticos que utilizam diariamente são o resultado de processos produtivos como a mineração, que extraem os recursos naturais e geram resíduos perigosos.
Os processos produtivos ganharam dimensões inimagináveis, para atender um maior número de pessoas no planeta e o consequente aumento na demanda por bens e serviços. Além disso, a questão da lucratividade tem grande influência para o quadro atual de degradação.
Em busca de maiores ganhos, algumas empresas inclusive colocam em risco a vida de muitos seres vivos ao “economizarem” com estruturas de segurança e por não investirem o suficiente em gestão de resíduos. Ressalta-se que o desenvolvimento sustentável somente será alcançado com os princípios da Agenda ODS para 2030, que prevê um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade. Brumadinho
Todo esse cenário torna ainda mais graves as questões expostas com o rompimento da barragem de rejeitos na cidade de Brumadinho, que tirou a vida de centenas de pessoas e causou impactos ambientais incalculáveis. A busca pelo lucro a qualquer custo fica evidente quando nos encontramos em um contexto no qual há três anos a cidade de Mariana esteve inserida: quando foi atingida por rejeitos produzidos pela empresa pertencente ao mesmo grupo que contaminou Brumadinho. Por que não investir em um processo mais seguro para a destinação dos resíduos de mineração? A resposta é simples: investir em destinação de resíduos resulta em menor lucratividade. Entretanto, a tragédia nos mostra o quanto essa afirmação está equivocada. Brumadinho
Esse contexto só reforça o imperativo do comprometimento global com a conservação dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável. Iniciativas como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) contribuem para repensar o modelo de desenvolvimento vigente, que negligencia as questões ambientais e não reflete sobre a igualdade social, saúde e bem-estar da população.
Acidentes como os observados em Mariana e Brumadinho seguramente não ocorreriam se as metas, estabelecidas nos ODS, estivessem de fato fazendo parte da agenda dos países signatários, como o Brasil, e houvesse um real comprometimento com essas causas. A nossa comodidade frente ao atual sistema produtivo é outro fator que dificulta ainda mais atingir as metas propostas nos ODS. Brumadinho
Fica cada vez mais evidente a necessidade de dialogar com a sociedade sobre a complexidade dessas questões, pois o modelo de consumo, de descarte e de lucro a qualquer custo já mostrou que não tem sustentabilidade. Temos a opção de repensar as nossas escolhas diárias ou sofrer as consequências pela falta de água segura, de solo fértil e do ar limpo para respira
Os recursos naturais pertencem a toda humanidade, e a cada crime ambiental, a cada nova contaminação, a cada nova espécie extinta, a cada ser humano que morre para outro lucrar, toda a humanidade perde. Não se olvidem, se tantas outras, passarem por tragédias semelhantes, pois o dever de casa e o aprendizado se tornou algo secundário para esses empreendedores.
Augusto Lima da Silveira – coordenador do Curso Superior Tecnologia em Saneamento Ambiental na modalidade a distância do Centro Universitário Internacional Uninter. Atualmente é doutorando em Ecologia e Conservação.
Ivana Maria Saes Busato – coordenadora dos Cursos Superiores de Tecnologia em Gestão Hospitalar e Gestão de Saúde Pública do Centro Universitário Internacional Uninter, ambos na modalidade a distância. Tem atuado na área de Saúde Pública, Gestão Pública e possui doutorado em Odontologia.
Rodrigo Berté – diretor da Escola Superior de Saúde, Biociências, Meio Ambiente e Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter. Atua na área de Meio Ambiente e Sustentabilidade. É Pós-Doutor em Educação e Ciências Ambientais pela Universidade Nacional de Ensino à Distância – Madrid (Espanha).
ANOTE: Esta matéria nos foi enviada por Giulia El Halabi da Pg1:
SeloPg1
Assessoria de imprensa da Uninter
Giulia El Halabi email giulia@pg1com.com
Capa da Matéria: Linkedin

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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