Strogonoff de brócolis, pamito e tofu
A alimentação, um dos maiores pilares da vida humana, assim como a respiração ou a exposição à luz solar, é tão frequente que se torna quase um gesto automático, involuntário, pouco pensado em nosso dia a dia…
Por Beatriz Haruka e Samuel Leão
Contudo, sabe-se de seu papel na transformação do corpo humano, em sua própria destituição e restituição diárias, e frases como “Você é o que você come” buscam reacender essa consciência objetiva da comida.
Em tempos nos quais a alimentação se torna cada vez mais industrial, feita para durar meses e circular ao redor do mundo, percebe-se um dos malefícios da globalização descuidada.
Os povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e interioranos em geral são referência em alimentação sazonal, seguindo as especificidades do ecossistema que os circunda, descobrindo os próprios corpos, a nutrição e a satisfação, em conjunto com a natureza.
Apesar da beleza da alimentação regionalista, precisamos ter consciência das barreiras que hoje existem e da praticidade que foi dada aos alimentos englobados pelos “Ceasas” e pelo comércio em geral.
Com isso em mente, preparamos uma receita simples, porém muito querida nacionalmente, aqui em versão econômica e vegana, sem o uso de ingredientes de origem animal.
O tradicional Strogonoff, conhecido como um prato russo, mas que de acordo com a história mais aceita, foi criado por um chefe francês que trabalhou para uma importante família russa, os Stroganov, que acabaram batizando o prato: Strogonoff de brócolis, palmito e tofu.
Ingredientes
1 pote de palmito
1 brócolis
5 tomates
1 cebola
5 dentes de alho
200g castanha de caju
1/2 ~ 1 copo de água 200g de tofu
1/2 xícara de amido de milho
Pimenta do reino
Sal
Páprica defumada
Batata palha
MODO DE PREPARO
- Retire o excesso de água do tofu com o papel toalha e corte em cubos. Em seguida, empane no amido de milho.
- Unte a frigideira com óleo vegetal e distribua o tofu para que todos estejam em contato com a panela. Deixe dourar por 5 minutos, vire e deixe por mais 3 minutos. Reserve.
- Para fazer o molho, coloque na panela a cebola e o alho e deixe dourar. Adicione os tomates, tampe a panela e espere reduzir.
- Para fazer o creme de castanha de caju, bata no liquidificador as castanhas com a água por 5 minutos ou até ficar homogêneo.
- Junte o creme ao molho de tomate e misture até incorporar tudo. Logo em seguida, tempere com sal, pimenta e páprica defumada.
- Por último, junte o tofu, o palmito e o brócolis cozido. Sirva com arroz e batata palha como acompanhamento.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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