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REPÚBLICA LIVRE DE PALMARES

REPÚBLICA LIVRE DE PALMARES: EXEMPLO REVOLUCIONÁRIO

REPÚBLICA LIVRE DE PALMARES: EXEMPLO REVOLUCIONÁRIO

A Santidade de Jaguaripe, formada a partir de 1580, por índios e africanos que fugiram da escravidão imposta pelos colonizadores, possuiu forte influência religiosa milenarista. Com sua organização, os índios e negros começaram a queimar casas, destruir lavouras de cana-de-açúcar e engenhos e a matar os portugueses que os escravizavam.

 Por Pedro César Batista

Essa primeira comunidade foi denominada de santidade, devido sua origem ter sido de índios que haviam recebido orientações religiosas dos padres jesuítas e terminaram tendo que fugir da escravidão nas fazendas, nos engenhos e também da obrigação que os religiosos impunham de fazerem o catecismo.

Segundo Ronaldo Vainfas, em seu livro Deus contra Palmares (1996) , as santidades representaram a forma precursora dos quilombos no Brasil, reunindo escravos indígenas e negros e brancos fugitivos da Coroa portuguesa. Mesmo esta posição não sendo consenso entre os pesquisadores, pesquisas arqueológicas na região da Serra da Barriga mostram evidências de considerável participação indígena na constituição do Quilombo de Palmares

O início desse movimento de indígenas e negros fugitivos levou Portugal a dar instruções detalhadas, determinadas pelo rei Espanhol Felipe II (que havia assumido a Coroa Portuguesa em 1580) ao governador do Brasil, Francisco Giraldes , em 1588, onde dizia que “mais de três mil índios que tem feitos fortes e fazem muitos insultos e danos nas fazendas de meus vassalos (…) recolhendo a todos os negros de guiné que andam alevantados” . Pode-se dizer que a resistência dos escravos começava a dar resultado, causando prejuízos aos colonizadores.

A luta dos escravos contra a escravidão cresceu rapidamente. Em 1602, o governador de Pernambuco, Diogo Bothelho, organizou a primeira expedição contra cinco das seis aldeias, localizadas entre a Bahia e Pernambuco , na região em que se consolidou o maior de todos os quilombos no Brasil. A partir de 1624, a República de Palmares deu um enorme salto populacional, depois da invasão de Pernambuco pela Holanda, que atacou os portugueses e iniciando uma , o que ajudou muitos escravos africanos para que aproveitassem o momento e se integrassem aos quilombos existentes, especialmente Palmares.

A cultura predominante entre os palmarinos era da região central da África, onde está localizada Angola. Eram aprisionados por governos africanos ligados aos portugueses, por mercenários e pelos colonizadores. Há uma corrente de historiadores brasileiros que consideram Palmares como uma tentativa de recuperar a herança cultural da África. Misturaram a isso a religião cristã e os hábitos indígenas.

UM AGLOMERADO DE QUILOMBOS

Palmares foi formado por um aglomerado de quilombos, uns pequenos, outros maiores, possuindo uma estrutura organizacional, com um governo centralizado, uma estruturada, força militar e uma sociedade organizada, estabelecendo prósperas comunidades agrícolas, autossustentáveis e autônomas . Considerando que, em 1610, o governador do Brasil, explicou ao rei que na região de Palmares havia mais de 20 mil almas

Até o meio do século XIX o Brasil possuiu milhares de quilombos, pequenos e grandes. Todos conseguiram se organizar e resistir por algum período, como Palmares que foi desarticulado em 1710. Isso não desestimulou a luta do povo negro, que seguiu se organizando em quilombos pelo território brasileiro.

Por exemplo, em 1823 em Trombetas, no Amazonas, o Quilombo do Pará, sob a liderança de Anastásio, escravo mestiço de negro e índio, com mais de 2 mil habitantes, possuía um intenso intercâmbio com a sociedade branca, com transações comerciais, chegando a exportar cacau para a Guiana Holandesa .

Segundo estimativas apresentadas por Mircea Buescu, no livro Exercícios da econômica do Brasil (1968), há registros do ingresso de 6.352.000 escravos no Brasil entre 1540 e 1860. Considerando ainda os escravos que entraram no mercado clandestino e aqueles que morreram na travessia dos navios durante o tráfico humano, este número aumenta consideravelmente. Darcy Ribeiro, em O Povo Brasileiro (1995) chega a estimar que 5 milhões de africanos morreram na travessia do Atlântico, entre a África e o Brasil .

Palmares lemad.fflch .usp .brFoto: lemad.fflch.usp

Com este artigo quero destacar dois pontos na atualidade.

Primeiro, Karl Marx escreveu o Manifesto Comunista, em 1848, e a Comuna de Paris ocorreu em 1871, tendo a organização da República de Palmares sido dois séculos antes, entretanto, Marx não teve conhecimento da experiência existente nos quilombos no Brasil, a qual mostrou uma organização de uma sociedade superior para a época, conseguindo se estruturar política, militar e economicamente, assegurando a vida de milhares de pessoas, não apenas os africanos, mas também índios e brancos, estes últimos em número menor, mas integrados às normas estabelecidas.

Infelizmente a perseguição aos escravos nunca cessou, chegando a ser publicado, em 1741, um decreto pela Coroa portuguesa que definia quilombo qualquer agrupamento composto com cinco ou mais escravos fugitivos , o qual devia ser combatido e seus integrantes presos.

Destaca-se, que, o papel que Ganga Zumba e Zumbi tiveram ao liderar Palmares foi muito além da questão racial, mostrando ao conjunto das classes oprimidas a importância da organização, unidade e resistência contra o opressor.

Em segundo lugar destaco os dados do Mapa da Violência 2016: homicídios por armas de no Brasil , que aponta apenas no Estado de Alagoas, onde se localizou o Quilombo de Palmares, que, somente em 2014, foram assassinados 60 brancos e 1.702 negros. No geral, o Mapa da Violência apresenta o índice de 7 negros para cada grupo de 10 pessoas assassinadas. Uma violência ainda direcionada pelas classes dominantes.

Isso sem citar os dados da população carcerária majoritariamente negra, dos salários menores para homens e negras, o que mostra que a população negra segue sendo a principal vítima do sistema e do Estado.

O mesmo que ocorre com os povos indígenas, que mesmo não sendo assassinados, estão completamente abandonados pelo Estado. As formas de violência contra os pobres se dá de muitas formas, o que mostra a necessidade das classes exploradas e oprimidas se unirem para combaterem o mesmo inimigo.

Os ensinamentos e a experiência dos quilombos, especialmente os deixados por Palmares, com a liderança de Zumbi e Dandara, exigem uma análise além da questão racial, mas com um olhar de classe, como um experiência revolucionária e multirracial na história das lutas dos explorados no Brasil e no mundo, que teve como finalidade combater a opressão, a exploração e a escravidão.

PALMARES: UM ESTADO AUTÔNOMO 

Palmares se organizou como um estado autônomo, com suas características idiossincráticas, em um tempo em que os colonizadores traficavam pessoas, saqueavam riquezas e impunham a ferro e fogo sua violência de classe.

Infelizmente esta situação pouco mudou, apenas as formas para explorar e oprimir foram alteradas e maquiadas, pois o Estado continua servindo aos mesmos senhores, segue a violência em todas as suas formas contra negros, indígenas e pobres e continua o saque das riquezas nacionais com a prática de uma política (ultra)liberal.

Combater o , defender a compensação e pagamento financeiro pelo desenvolvido por séculos pelos escravos é uma necessidade histórica, para isso, é necessário a unidade de todas as classes exploradas e oprimidas pelo capital, ousar se unir, organizar-se e seguir lutando por , igualdade e liberdade, pra conquistar um novo tempo, uma nova sociedade.

Palmares Meborach ViagensFoto: Meborach Viagens

Pedro C%C3%A9sar BatistaPedro César Batista é , escritor, jornalista e bacharel em direito. Fonte desta matéria:  Palmares – Exemplo revolucionário

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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