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MULHERES ELEITAS EM 2024: CRESCE O PERCENTUAL, MAS A DESIGUALDADE PERSISTE

MULHERES ELEITAS EM 2024: CRESCE O PERCENTUAL, MAS A DESIGUALDADE PERSISTE

Eu acho uma pena”. Foi assim, de forma direta e curta, que a ministra Carmem Lúcia, presidenta do Tribunal Superior Eleitoral lamentou o fato de que nenhuma mulher tenha sido eleita para prefeita das capitais brasileiras no primeiro turno das eleições de 20024.

Por Zezé Weiss

Há, ainda, alguma chance de se eleger mulheres para as prefeituras das capitais do país, uma vez que em sete delas – Curitiba, Porto Alegre, Aracaju, Natal, Campo Grande, Palmas e Porto Velho – há mulheres na disputa do segundo turno, no dia 27 de outubro.

Apenas uma capital, Campo Grande, será, com certeza, administrada por uma prefeita, uma vez que duas mulheres, Adriane Lopes (PP), que foi a primeira prefeita eleita em Campo Grande, e Rose Modesto (União) disputam a vaga.

Em Curitiba (PR), Cristina Graeml (PMB) está na disputa contra Eduardo Pimentel (PSD). Em Natal (RN), Natália Bonavides (PT) enfrenta Paulinho Freire (União). Em Porto Alegre (RS), o atual prefeito Sebastião Melo (MDB) concorre contra a deputada federal Maria do Rosário (PT).

Em Aracaju (SE), Emília Corrêa (PL) enfrenta Luiz Roberto (PDT). Em Palmas (TO), Janad Valcari (PL) tenta vencer Eduardo Siqueira Campos (Podemos). E em Porto Velho (RO) a disputa será entre Mariana Carvalho (União) e Léo Moraes (Podemos). 

Das mulheres na disputa para as prefeituras das capitais, apenas duas são de esquerda e do PT: Natália Bonavides, de Natal, e Maria do Rosário, de Porto Alegre. 

VEREADORAS

No cômputo geral, cerca de 17,91% das pessoas eleitas nas eleições municipais de 6 de outubro são mulheres. Das 69.346 lideranças eleitas no primeiro turno, 12.417 são mulheres. Foram eleitos 56.929 homens, ou seja, 82,09% do total, segundo dados do TSE.

Em 2020, de acordo com o TSE, 10.920 mulheres foram eleitas como vereadoras no primeiro turno, cerca de 16% do total. As 12.417 vereadoras eleitas em 2024 mostram, até o momento do fechamento desta edição (10/10), um crescimento percentual 1,91% (pode haver uma pequena variação para mais com os resultados do segundo turno).

Também houve uma pequena oscilação para mais na eleição de prefeitas. Em 2020, foram 656 prefeitas eleitas, perfazendo 12% do total. Em 2024, no primeiro turno, se elegeram 722 mulheres, elevando o percentual para 13%. Um pequeno avanço, ante uma desigualdade que persiste.

A tabela que se segue, publicada pelo G1, resume o balanço da conquista feminina entre as eleições nos últimos 20 anos, de 2004 a 2024.

Total de vereadores e vereadoras eleitos/as por gênero

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Mesmo com o crescimento lento e gradual das mulheres na política, sobretudo nas câmaras municipais, os números continuam bem abaixo do que nós, mulheres, representamos entre as pessoas com direito ao voto em nosso país.

Segundo o TSE, em julho deste ano (2024), éramos 81,8 milhões de mulheres eleitoras no Brasil. Ou seja, 52,4% das pessoas que estavam aptas a votar em 6 de outubro eram mulheres. Os homens aptos a votar somavam 74 milhões, apenas 47,6% do eleitorado.

Em relação aos resultados alcançados, um destaque é para a cidade de São Paulo que elegeu 20 mulheres, 7 a mais que em 2020. Assim, as mulheres conseguiram ocupar 36,3% das vagas da Câmara Municipal, composta por 55 parlamentares.  

PREFEITA MAIS VOTADA

A prefeita que recebeu o maior número de votos em números absolutos em todo o Brasil é Marília Aparecida Santos (PT), psicóloga e bancária, eleita com 188.228 votos (60,68% do total) para administrar o município mineiro de Contagem.

Eleita para o seu quarto mandato como prefeita (2004, 2008, 2020 e 2024), Marília agradeceu a confiança do povo de Contagem em suas redes sociais: “Juntos, seguiremos construindo uma cidade cada vez mais justa, próspera e feliz, ampliando nossas conquistas e mantendo Contagem na rota do desenvolvimento”.

Entre suas propostas, estão o implemento de aluguel social e moradia popular, o incentivo ao transporte a pé e por outros meios não poluentes e a criação de um programa de atendimento especial para animais.

MULHERES ELEITAS EM 2024: CRESCE O PERCENTUAL, MAS A DESIGUALDADE PERSISTE

Marília Aparecida Santos (PT) foi reeleita no município. Janine Moraes / Divulgação

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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